O processo civilizatório ainda tem muito que caminhar no Brasil, pois uma sociedade só é civilizada quando os interesses comerciais de grupos econômicos não se sobrepõem ao bem estar social.
No Velho Mundo, por exemplo, atingiu-se um estágio civilizatório em que esse bem estar social se sobrepõe aos interesses comerciais e corporativos. Não existe um país considerado civilizado em que pessoas valem menos do que frutas destinadas à comercialização.
No dia 24 de agosto, para atender demanda judicial de uma empresa de ônibus de São Paulo, a Polícia Militar, sob ordem do governador José Serra, derrubou barracos de OITOCENTAS famílias numa favela incrustada no bairro de Capão Redondo.
As famílias (crianças, mulheres, idosos) foram jogadas na sarjeta, puseram-se a perambular pelas ruas da cidade em pleno inverno, passando frio e fome, e ninguém pediu CPI, muito menos a mídia. Uma mulher favelada chegou a ter o filho roubado no meio da confusão.
Na semana passada, porém, a indignação midiática foi às nuvens com a destruição de pés de laranja por membros do MST em terra invadida pela empresa fabricante de suco de laranja Cutrale.
O Incra diz que a Cutrale invadiu aquela terra e ali cultiva laranjas ilegalmente, pois, tanto quanto as famílias do Capão Redondo, não pagou pela terra. Na reintegração de posse popular, porém, a mídia e os partidos de direita no Congresso defendem os invasores.
Este é o sistema capitalista mais selvagem que se pode conceber, no qual o ser humano vale menos do que pés de laranja. Em nenhum país civilizado famílias inteiras são jogadas na sarjeta sem que o Estado manifeste a menor preocupação com o destino delas.
É possível uma sociedade capitalista respeitar mais as pessoas do que os interesses comerciais. Vários países fazem isso. Esses episódios de destruição de pés de laranja e de moradias de famílias pobres mostram quão distantes ainda estamos da civilização plena.
Fonte: Eduardo Guimarães - edu.guim.blog.uol.com.br
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