Amor, afeto, carinho, cuidado, solidariedade e desejo de um mundo melhor. Essas são algumas das razões que levam uma família a abrir a porta de suas casas e seu coração para abrigar temporariamente crianças e adolescentes vítimas de violência doméstica, negligência ou em situação de vulnerabilidade social. É através do programa Família Acolhedora, da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, executado através da Secretaria Municipal de Assistência Social (SMAS), que crianças e adolescentes com este histórico têm a oportunidade de conviver em família.
O programa consiste em acolher em casas de famílias credenciadas crianças e adolescentes de 0 a 18 anos. O atendimento inclui acompanhamento psicológico e assistência social às famílias de origem e biológica. Atualmente, 248 crianças e adolescentes estão acolhidas temporariamente em 127 famílias e 146 responsáveis biológicos recebem o acompanhamento do programa.
Ainda assim o número é baixo. Segundo a coordenadora do programa, Denise Casagrande, o número de pessoas dispostas a acolher é insuficiente:
- A demanda do pedido de acolhimentos aumentou muito e precisamos de mais famílias. Hoje temos umas 30 crianças aguardando para entrar no programa.
Uma das mais antigas integrantes do Família Acolhedora, Ivonete Gabi Rodrigues, de 50 anos, é exemplo de que motivos para aderir ao programa não faltam. Desde 2006, multiplicando seu coração por Igor, Michael, Mirele, Lucas, Paula Carina, Jaqueline, Marcos Aurélio, Mariana, Paulo Henrique, Virgínia Alexandre, Mateus, Talita e Carolina, Gabi coleciona histórias de amor.
Atualmente, a dona-de-casa, seu marido e suas duas filhas biológicas acolhem em casa os irmãos Alexandre, 14 anos, e Mateus, 13, e as irmãs Talita, de 14, e Carolina, 11.
- Cobro muito deles na escola. Estudo junto em casa, o que não sei eles tiram a dúvida com a explicadora, olho o caderno de todos, frequento todas as reuniões do colégio. Enfim, participo mesmo da vida deles. Além dos estudos, levamos as crianças para passear, em família mesmo. Isso é fundamental – explica Gabi, que também abriga Virgínia de 19 anos, que não está mais no programa. - A Virgínia trabalha, tem a vida dela. Mas, ela disse que só sai daqui quando casar – diverte-se a mãe acolhedora.
A vontade em ver crianças e adolescentes traçando sua própria vida com dignidade resultou em uma relação de amizade curiosa entre Gabi e Jaci Michele Pereira, de 35 anos, mãe dos três primeiros beneficiados acolhidos por esta Família Acolhedora. Afastada dos filhos por negligência, Michele recebeu uma grande ajuda de Gabi para receber os filhos de volta.
- No começo a relação com Gabi era estranha. Eu não ia com a cara dela. Achava que ela ia roubar os meus filhos. Depois, a relação foi melhorando e hoje somos amigas. Ela me ajudou muito a construir a minha vida de novo – conta Michele, que também tem uma filha de 3 anos, essa do seu segundo casamento.
Michele é apenas uma das – intermináveis - histórias de Gabi com seus filhos de coração. Para ilustrar, a dona-de-casa abre o baú e mostra fotos de todos eles:
- Mantenho contato até hoje com todos que passaram por aqui: seja por telefone, pela Internet ou até mesmo pessoalmente. Ficou o aprendizado: somos uma família.
Para Gabi, um dos momentos mais difíceis do programa é quando a criança ou o adolescente tem que deixar a sua casa para ser encaminhada à adoção ou à família de origem. Mas, ela garante que é uma vitória ver um resultado positivo com seus filhos de coração:
- Procuro não pensar nisso. Mas a gente tem que se preparar psicologicamente. O coração da gente fica pequenininho, a gente pega afinidade. Tenho plena consciência que eles não são meus – explica Gabi, dando os ingredientes fundamentais para integrar o programa.
- Ter um bom equilíbrio é fundamental. Ter aquela palavra tão pequenininha e tão difícil de falar e praticar, que é o amor. Se eu acolho é porque quero dar algo como amor, segurança e alegria – diz e conclui: -Tenho prazer nisso. Minha família biológica também é super acolhedora. Se ela não estivesse comigo eu não estaria no programa.
Com apenas 11 anos, Carolina atesta e não poupa elogios para sua família acolhedora:
- É maravilhoso ficar aqui. O que eu tenho aqui? Muita coisa que não tenho nem palavras para dizer. Aqui é a nossa casa. Coisas muito boas acontecem aqui.
Quem pode ser acolhedor?
Os interessados em integrar o programa precisam ter disponibilidade de tempo e afeto para cuidar da criança, idade entre 24 e 65 anos, boa saúde e zelar pela saúde da criança, garantir a frequência em escola. Além disso, é preciso que o interessado não esteja respondendo a inquérito policial ou envolvido em processo judicial, não tenha problemas psiquiátricos, alcoolismo ou vício em drogas ilícitas e ter residência fixa no município do Rio.
Cada família que acolhe uma criança/adolescente recebe uma bolsa auxílio mensal que varia de acordo com a faixa etária: crianças de 0 a 6 anos, é concedida bolsa-auxílio de R$350; de 7 a 14 anos, bolsa de R$450 e adolescentes de 15 a 18, uma bolsa de R$600.
Como participar do programa?
Quem tiver interesse em participar do programa deve ligar para o Tele-Família Acolhedora, no 2976-1527, de segunda a sexta-feira, das 9:30 às 17 horas.
Fonte: Prefeitura do Rio
Texto: Anna Beatriz
Fotos: Eliane Carvalho
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