quinta-feira, 20 de julho de 2017

A CUT E A LUTA DE CLASSES

Por José Garcia Lima

Desde a sua fundação, antes mesmo disso, na segunda metade dos anos setenta, a CUT protagonizou e liderou as lutas que diziam respeito aos interesses dos trabalhadores. 
No entanto, tanto quanto o PT, cuja origem tem a mesma matriz de pensamento, com uma disposição fundamental: a possibilidade permanente de negociação e conciliação.
Natural que assim fosse se considerarmos que as formulações políticas que norteavam a criação de uma e outro nasciam no seio do sindicalismo melhor sucedido na época, o do ABC paulista, espaço no qual se concentravam as crescentes montadoras automotoras e toda a indústria de sua cadeia produtiva.
É interessante lembrar que a concepção de organização política comum aos dirigentes das correntes majoritárias da CUT e do PT refutava o modelo que os partidos comunistas, hegemônicos nas organizações sindicais até antes do golpe militar de 1964.
Para os comunistas, os sindicatos tinham a tarefa específica de despertar a consciência de classe dos trabalhadores, assim organizá-los e conduzi-los às organizações partidárias, às quais cabia conceber e promover as ações e movimentos necessários às transformações sociais. 
A consciência de classe a ser despertada pelos sindicatos e consolidada pelo partido seria necessariamente revolucionária, transformadora da ordem social, de ruptura com a ordem burguesa, a natural inimiga de classe, com a qual era impossível conciliar.
A CUT e o PT, portanto, ao afirmarem a hipótese da conciliação das classes e da possibilidade de transformação social nas mesas de negociação das pautas sindicais, dão uma nova dimensão à representação classista e redefinem o seu papel e objetivo.
O conflito de interesses de classes na repartição da riqueza gerada no processo produtivo passava a ser o real limite da luta. O confronto, como elemento revolucionário, transformador das relações, provocador de ruptura da ordem, não estava mais no horizonte.
No passar desse tempo dá-se o avanço do neoliberalismo no mundo. Valendo-se da apropriação das novas tecnologias e dos novos materiais e de uma brutal comunicação de massas que inclusive seduz setores expressivos do sindicalismo, impõe novas relações de produção que resultam no estabelecimento de um cenário deletério para as organizações operárias: a consciência de que o indivíduo se basta e de que as organizações coletivas são imprestáveis, no que foi a sua grande e mais consequente vitória ideológica.
A par disso, e por isso, crescem – e são festejadas e estimuladas de modos sub-reptícios – as reinvindicações específicas de grupos que passam a se anunciar como não representados pelas organizações classistas em geral. Nascem e proliferam as organizações que tratam isoladamente das preocupações dos jovens, das mulheres, de diferentes grupos religiosos, de diversidade sexual, especificidades étnicas e outros, fragilizando ainda mais as já desgastadas representações sindicais.
O tempo passa e, nesse cenário, Lula é eleito em 2002. Todas as sinalizações dadas aos senhores do mercado na campanha eleitoral, sobretudo pela Carta aos Brasileiros, que afirmava o respeito aos contratos em vigor, apontavam um governo que não pensava em rupturas com o estabelecido e com o instalado.  
Em seu primeiro mandato, principalmente levando adiante a real determinação de fazer alguma distribuição de renda, Lula provocou notáveis alterações na cruel pirâmide social do país. Festejado mundo a fora e aparentemente aceito internamente, o governo do ex-operário parecia demonstrar que a conciliação com as classes dominantes era, realmente, possível! 
A crise surgida ainda em 2005, com as primeiras denúncias espetaculares e espetaculosas sobre apropriação de recursos públicos para variados fins por parte de integrantes do governo, despertaram em uns poucos a pálida impressão de que talvez a burguesia não estivesse tão disposta a concordar com as tais  transferências de recursos aos mais pobres quanto fizera crer inicialmente. 
Ainda assim as primeiras reações pareciam apontar a saída de sacrificar alguns para manter o poder que se acreditava existir no exercício da presidência. A reeleição de Lula em 2006 fez crescer o número dos crentes em tal providência.  
Desgraçadamente, desde então as hostilidades, as agressões e a verdadeira caça ao que passaram a chamar de lulopetismo só fez crescer e agravar, desaguando na situação que vivemos hoje, com o impedimento de Dilma, as constantes trocas de ministros, as reformas dizimadoras dos direitos dos menos assistidos, as denúncias contra o presidente no plantão e contra o seu eventual substituto, a condenação do Lula, ainda sem prisão determinada, negando a hipótese inicial e criando – espero! – uma certeza: não há qualquer possibilidade de conciliação com a burguesia mais vagabunda e insensata do planeta! 
Com a interrupção do experimentado na União Soviética, no que a história chamou de o socialismo real e que pretende definitivamente derrotado – mas não nos deixemos abater pelo açodado Fukuiama e seu buliçoso “fim da história”! – parecemos não ter um discurso sedutor para as classes desvalidas, um novo modelo de sociedade alternativo ao produzido e proposto pelo capitalismo, se é que o necessitamos.
Mas o debate sobre com quais argumentos poderemos convencer as camadas mais sacrificadas da população, é fato, se impõe, é imprescindível e inadiável.
Mas enquanto não o fazemos e concluímos, não podemos correr o risco de sinalizar que pretendemos ganhar as eleições de 2018, com Lula, para fazermos mais do mesmo! 
Não podemos ter como horizonte apenas a recuperação do poder central, sem maioria no congresso – e até com maioria no congresso! – para voltar ao exercício da obrigatória conciliação com a mesma burguesia que jamais investiu um único centavo em qualquer dos ciclos de desenvolvimento que o país viveu, mas que se apropriou da quase totalidade da riqueza gerada em cada um. 
No horizonte que queremos tem obrigatoriamente que surgir a ruptura com a ordem burguesa porque este é o único resultado aceitável da verdadeira e real luta de classes!
“Pra que serve a utopia? Pra caminharmos!”.

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