Nos últimos dias vivenciamos mais uma tentativa de golpe das elites brasileiras ao Estado Democrático de Direito, e no fundo um golpe no povo brasileiro. Mas como assim golpe? Não era apenas um procedimento jurídico para apurar a corrupção? Não, não era. Pra desmentir esta farsa jurídica vários ministros, advogadas/os e professores de Direito já emitiram notas, escreveram textos explicando por A + B os excessos cometidos pelo famoso juiz Sérgio Moro. Mas de onde vem tanta força desse juiz? Por que ele tem esse poder de armar um verdadeiro ‘circo’, com centenas de policiais para criar um clima de guerra, de prisão de líder de grupo terrorista?
Até bem pouco tempo atrás não sabíamos quem era Sérgio Moro, mas um setor das elites brasileiras fez direitinho seu trabalho: a mídia! Em especial a rede Globo que dedica algumas horas de sua programação diária para destacar noticias vindo da operação “Lava-jato”, plim plim por plim plim, buscando criar um clima de guerra, por que finalmente “descobrimos quem inventou e quem opera a corrupção no país: o PT”. Falando assim a gente até parece concordar, afinal nunca se sabe de onde veio e pra onde foi as grandes quantias de dinheiro do povo brasileiro desviado pelas elites desde os tempos do Brasil Império, e agora… sabemos! Esta é a sensação que a ‘grande mídia’ quer construir na população, e de que o grande responsável pelo combate à corrupção seria o juiz Sérgio Moro, uma espécie de herói, paladino da justiça. Contudo, esse ímpeto do Juiz Moro, só se aplica nos segmentos políticos em que há interesse desconstituir. As suspeitas que envolvem os tucanos, não são dignas de investigação, pelo aparato jurídico-policial, e não são dignas de espetacularização pela mídia. Basta lembrar que Aécio Neves já foi citado em 3 delações diferentes, e qual a repercussão que isso teve?
Nunca é demais nos perguntarmos: quem são os donos da mídia? Quem escolhe o que vai ser transmitido para pelo menos 150 milhões de pessoas ao mesmo tempo? Há anos os movimentos populares vêm denunciando a concentração da mídia nas “mãos” de 9 famílias no Brasil e de como estas famílias interferem no poder político. Uma família em especial atua como o quarto poder: os Marinho. Os comandantes das organizações Globo estiveram junto com os militares na ditadura, acobertando suas atrocidades. Após a redemocratização foram decisivos em todos os pleitos eleitorais, em especial na eleição de 1989, quando promoveram a famosa trapaça no debate entre Lula e Fernando Collor (veja aqui). A Globo sempre atuou no sentido de criminalizar toda forma de protesto e manifestação democrática que ferisse os seus interesses, das jornadas de junho até as ocupações das escolas em São Paulo.
Em síntese, não se trata de imprensa, mas de uma empresa que atua incisivamente na definição dos rumos do nosso país, sempre em favor de seus interesses, e da elite à qual representa. Portanto, o que estamos vendo na cobertura da operação Lava-Jato, não é a transmissão de uma informação, mas a construção de uma narrativa que convença a população de que alguns atores políticos podem ser eliminados, mesmo que isso viole as regras do jogo constitucional.
Independentemente das criticas que possam ser feitas a Lula, e ao projeto que ele representa, inclusive pela incapacidade de avançar na desconstituição do oligopólio da mídia, ao qual hoje o próprio Lula é vítima, não se pode deixar de denunciar que o que está em curso é a constituição de um Estado de exceção. Essa mesma operação jurídica-midiática que hoje se abate sobre o Lula, poderá ser utilizada para criminalizar todas as expressões progressistas e populares em nosso país. A isso que estamos chamando de golpe.
O grande intelectual e militante Florestan Fernandes nos ensinou que as elites brasileiras nunca foram a favor da democracia, elas tem um sistema de Poder próprio, que exclui a classe trabalhadora de qualquer decisão. A este modo de operar das elites Florestan chamou de ‘autocracia burguesa’, um sistema que envolve os latifundiários do agronegócio, os banqueiros, os donos de indústria e os donos da mídia. Em momentos de crise de Poder estas elites buscam definir os rumos do país sem se preocupar e nem consultar a população e nem respeitar as instituições da democracia. E para combater esta autocracia burguesa é necessário unificar todo o povo brasileiro, fazer grandes manifestações de rua, organizar-se por território e disputar corações e mentes. Uma boa briga que quebra um desses alicerces do poder da burguesia é: construir nossos próprios meios de comunicação e lutar pela democratização do acesso à comunicação!
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