segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

SINDICATO FORTE = TRABALHADOR COM MELHOR QUALIDADE DE VIDA

Adam Przeworski - Cientista político e professor da Universidade de Chicago (EUA).

“Talvez os países onde há menos desigualdade sejam aqueles que têm sindicatos fortes, onde a classe operária está organizada em um sindicato que tem recursos, que tem seus jornais e suas instituições”

Em tempos que no Brasil, o governo Michel Temer retira direitos do trabalhador e tenta inviabilizar a existência dos sindicatos para tentar extinguir as convenções coletivas e priorizar a negociação individual e direta entre patrão e empregado, um dado chama a atenção: os países mais prósperos e desenvolvidos do mundo, onde o trabalhador tem melhor renda e condições de vida, são justamente aqueles em que os sindicatos são mais fortes. 

Claro que muitas outras questões também explicam o sucesso destas nações, como a presença consolidada do estado na economia, pleno emprego, educação integral de qualidade, saúde pública para todos os cidadãos e domínio de avançadas tecnologias.  
A lição do bom exemplo de justiça social e igualdade de oportunidades vem dos países nórdicos, como Noruega, Dinamarca e Suécia, que estão sempre disputando os maiores Índices de Desenvolvimento Humano (IDHs) do mundo. 

“Os melhores exemplos de democracia e desenvolvimento humano do mundo estão relacionados à capacidade de organização de luta dos trabalhadores, através dos sindicatos, e esta experiência é importante nesta conjuntura em que o governo e a grande mídia tentam mostrar o contrário ao povo brasileiro”, afirma a presidenta do Sindicato dos Bancários do Rio, Adriana Nalesso. 

Lutas organizadas

A avaliação é confirmada por um estudo de um dos mais renomados cientistas políticos do mundo contemporâneo: o polonês Adam Przeworski, especialista em sistemas democráticos na América Latina e no leste europeu, conforme matéria publicada no Jornal Bancário, no ano passado. O acadêmico alerta que é a luta organizada dos trabalhadores que gera conquistas que resultam em melhores condições de vida e de trabalho. 

“A democracia, em si mesmo, não gera igualdade. É um campo de lutas organizadas que pauta as forças políticas para uma sociedade melhor”, explica. Adam considera importante a participação dos cidadãos nos processos eleitorais, ainda que faça a ressalva da influência do poder econômico nos pleitos, mas lembra que outros componentes também repercutem diretamente no grau de desenvolvimento econômico e justiça social. 

“Em uma sociedade de mercado, sempre haverá algum nível de injustiça social e desigualdade. Talvez os países onde há menos desigualdade sejam aqueles que têm sindicatos fortes, onde a classe operária está organizada em um sindicato que tem recursos, que tem seus jornais e suas instituições. Falo, sobretudo, dos países escandinavos, onde os sindicatos têm muito peso frente às empresas. É inegável que, em outros países, a sociedade é muito mais desigual”, acrescenta.

Na opinião do cientista político, as políticas neoliberais, de ataques aos direitos do trabalhador e ao movimento sindical explicam o aumento da desigualdade e perda de renda da população, mesmo em países desenvolvidos, como Inglaterra e EUA. Ele cita as políticas de Margaret Thacher e Ronald Reagan nos anos 70 e 80, quando os sindicatos foram atacados e enfraquecidos e a população dos dois países começou a perder em renda e qualidade de vida e de trabalho.

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